segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Karliana - Um pequeno folhetim - Capítulo Final



Da onírica realidade ás lágrimas de chuva.



- Tenho que informar uma coisa crianças, o gatinho não vai ficar bom, ele está morrendo e provavelmente morrerá hoje, isso depois de viver comigo por muitos e muitos anos.
- Mas ele não pode morrer! É só ele tomar um remédio que ele fica bom... – disse a menina.
- Quisera eu que fosse assim, mas dessa vez infelizmente não será. Existem momentos que se deve enfrentar as dificuldades em nossas vidas, e a morte, a perda de quem gostamos muito, de quem amamos, faz parte deste aprendizado. O importante é como sobrevivemos a essas perdas.
- A senhora está assustando a gente. - disse a menina começando a chorar.
- Desculpe pequena, não quero assustar vocês, me desculpe. Só não quero que vocês pensem que o gatinho ficará bem, já que ele não vai ficar. Enfrentar a realidade...
- E se eu der as minhas formigas mágicas para o gatinho? Será que ele vai ficar bem? – Perguntou o menino.
- Você é muito esperto, realmente bondoso meu querido, tem a pureza e a simplicidade, que não deveríamos perder. Agora, é isso que você quer fazer? Você quer ficar sem as suas formigas mágicas para salvar a vida de um gatinho?
- Se isso for ajudar, eu quero! Não digo que não ficarei triste, mas eu quero tentar, eu ainda terei tempo na minha vida para encontrar outras coisas mágicas.
De repente, Gatoso dá um grande suspiro e aperta forte seus olhos e os abre novamente. O garoto abre o pote e as formigas começam a sair. Gatoso olha para todos, como se gastasse as últimas energias estica as patinhas, segura as almofada em sua pequena boca e afofa a almofada que ele dormiu a vida inteira, se aninha, olha mais uma vez para a senhora, abaixa a cabeça em cima das suas patinhas e fecha os olhos uma última vez, no momento que as formigas chegam em seu focinho.
O silêncio só é quebrado pelas tentativas de conter o choro da menina.
A senhora vai até o gato e tenta acordá-lo, sem resultado. Pega-o no colo mesmo com algumas formigas andando sobre ele. Aperta o seu amigo em seu o peito e com um olhar triste se volta para as crianças.
A garota chora, o pequeno não entende.
A mulher com cuidado coloca Gatoso em sua almofada, abraça as crianças e diz:
- Sintam, vivam e encarem de maneira positiva as perdas, chorem o quanto precisarem, mas façam disso algo positivo, um aprendizado na vida de vocês, cuidem-se. Quanto a você meu pequeno herói, saiba que você fez uma coisa linda hoje, dando as suas formigas ao Gatoso.
- Mas, não adiantou...
- Uma atitude tem impacto em mais coisas do que podemos imaginar, ainda mais quando fazemos com fé, e quando se acredita que fizemos a coisa que era necessária.
Agora vocês precisam ir embora. Mas, saibam, que o que aconteceu aqui hoje daqui um tempo será  apenas uma memória. Uma memória parecida com um sonho, daqueles difícil de se lembrar.
O menino dá um abraço e um beijo na senhora, pega sua amiga que chora sem parar e saem da casa.


Quando eles já estavam um pouco a frente no caminho de volta na trilha dos antepassados, o garota segura com mais força a mão do seu amigo, olha para trás, manda um beijo para senhora que os observava quase fechando a porta com um sorriso no rosto.


Depois que eles sumiram no horizonte, ela fechou a porta, olhou para sua casa, viu as formigas mágicas carregando o seu amigo Gatoso, que ela viu morrer 7 vezes, sendo que algumas foram em suas mãos para tentar chorar, tentativas em vão.
Foi até sua cama sentou, lembrou das crianças que sempre quis ter como amigos desde pequena e sentiu seu corpo se inundar de uma felicidade. No começo ficou assustada, a respiração acelerou, olhou novamente para o seu gatinho e o viu sendo carregado pelas formigas, e atrás um cortejo feito por suas velhas amigas joaninhas, algumas desviaram o caminho em sua direção. Quando se deu conta, ela já estava deitada em sua cama, uma das joaninhas subiu no seu rosto e foi como se as duas se encarassem, foi assim que a senhora que se chamou Karliana percebeu que elas vieram buscá- la. Sorriu. E quando a felicidade foi plena, soltou a sua primeira e única lágrima na vida, e morreu, feliz por ter sentido que amou intensamente coisas boas e nunca deixou de acreditar.


Na trilha , começa chover, a menina começa a correr. O menino para, levanta o rosto, deixa a chuva bater e no que seria um grito de felicidade vem um sorriso de satisfação e um olhar de quem acredita.




Naquele dia choveu e choveu na vila.


Fim

domingo, 9 de outubro de 2011

Karliana - Um pequeno folhetim - Capítulo 3

Da cruel realidade às lágrimas secas.




Gatoso estava olhando pela janela observando sua amiga quase que com um sorriso no rosto, aquele sorriso que só os gatos podem dar. Só que não demorou muito e o sorriso foi desaparecendo e ele se agitou, ficou cada vez mais arisco, a medida em que um grupo de garotos se aproximava dela.


- Olhem! Lá vai a menina das joaninhas mágicas, peguem ela! Onde você está indo garota-joaninha?
- Eu não sou a garota joaninha, apenas respeito e cuido delas.
- Garota-joaninha! Garota-joaninha! Garota-joaninha! - cantavam todos
- Me diz uma coisa, se elas são mágicas você não precisa cuidar delas, ninguém vai fazer nenhum tipo de mal pra elas, elas sabem se cuidar.
- Acho que você não entende, independentemente de serem mágicas, elas precisam de mim.
- Não, elas não precisam de você. Elas pertencem à natureza.
- Eu sei, é justamente por isso que eu preciso proteger.
- Você não entendeu, né? Elas não são mágicas. São só joaninhas e se elas morrerem é porque elas precisavam morrer. Quer saber, elas sabem se cuidar sozinhas, me dê esse pote!
- Não. Você não entende, eu não posso deixar você fazer mal pra elas.
- Ah não...
- Por que é tão dificil você acreditar? Você não precisa fazer isso, só pra mostrar que você é bom para os seus amigos idiotas.
Escuta-se uma risada.
- Agora você passou dos limites!
- É só a verdade...
- Não zoe comigo e saia daqui. – Tomando o pote da mão dela.
- Por favor não faça isso!
- Agora você vai ver se essas joaninhas são mágicas, porque se são mágicas elas vão escapar do rio – Abrindo o pote para jogá-las no rio.
- Não! - correndo na direção do garoto.
- Nadem joaninhas! Nadem joaninhas! - soltando uma gargalhada.
Uma joaninha pulou e caiu no ombro da menina e a olhou até ser jogada longe por outro menino.
- Não pense que estamos lhe fazendo mal garota, estamos te ajudando a crescer e esquecer essa babaquice de joaninhas mágicas. Você viu que de mágica elas não tinham nada, senão teriam feito alguma coisa. Mágica não existe!
Chorando a menina grita para ela mesma:
- A mágica não está só em fazer coisas e sim em respeitar, dividir, pois só assim se pode sentir, acreditar.
- Pare de chorar e resmungar! Agora você vai encarar o mundo de outra forma, da maneira que ele é. Sem magia!

Continua

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Karliana - Um pequeno folhetim - Capítulo 2


Das perdas, crenças e certezas






Numa manhã alguns bons anos atrás


- Gatoso, você sabe como você é importante pra mim, não sabe? De todas as coisas que faço todos os dias não tem uma que eu não pense em você, a não ser estudar que a mamãe me pediu para me concentrar nos estudos, que é uma coisa muito importante. Você é o meu melhor amigo, por isso que eu te amo tanto. – abraçando o gatinho.
- Filha! Estamos todos prontos, vamos? Temos que dar o nosso último adeus para a vovó...
- Ai eu não quero ver a vovó, ela não está mais por aqui é agora apenas um corpo frio... Eu preciso ser forte pela mamãe... Quem vai me ajudar a ser forte? Gatoso, se esfrega insistentemente nas pernas da menina.
- Darei o seu beijo na vovó, mesmo sabendo que ela não vai entender e nem sentir...e obrigado por sempre estar comigo.
- Mãe, porque você está chorando tanto?
- Nunca mais falarei com a minha mãe...nunca mais ninguém vai me entender só de olhar e me ensinar a acreditar como ela fez comigo...Agora tenho que fazer o que ela ensinou para que ela continue viva...
- Me dá um abraço. -  disse a filha sem derramar uma lágrima e levantando, se aninhando no meio dos braços da mãe.


De volta a trilha com a senhora acariciando o triste gatinho:
- Era melhor se não percebessemos depois de tantos anos a falta que as pessoas que amamos fazem e que não soubessemos que a maior certeza que temos na vida é que ninguém é eterno mesmo aqueles que tem 7 vidas...- disse a mulher numa voz muito baixa quase que pensando apenas.
- Senhora, não entendi – disse a menina
- Desculpe querida.
- Não fique triste!
- Eu sei meu anjo, não é tristeza, o problema são a s certezas que não podemos remediar.
- Cuidaremos do gato e ele vai melhorar.
- O que você tem nessa mochila, menino?
- Minha coleção de formigas mágicas.
- Nossa! Isso sim é algo bom para conversarmos, o que elas fazem?
- Eu já disse elas são mágicas....
- Isso a senhora escutou, ela quer saber o que elas fazem, seja educado.
Colocando a mão na frente da boca e falando baixinho:
- Se eu soubesse não seria mágica, não é?


Continua ...